sábado, 6 de março de 2010

A mulher na literatura

Durante séculos as mulheres foram culturalmente reduzidas ao silêncio, ocupando o lugar de espectadoras na sociedade e na literatura. Ainda hoje muitas mulheres aceitam a passividade, a condição de servas do homem e se conformam pensando “sempre foi assim”.


Porém, a cultura de nossos dias parece cada vez mais atenta ao discurso das mulheres e sobre as mulheres. Após séculos aparecendo na história da literária no papel de objeto, finalmente a mulher surge como sujeito capaz de propor muitos valores, de praticar e de sensibilidades diferentes.

A mulher sempre esteve presente ma literatura, mas mesmo quando era musa inspiradora dos poetas, a mulher aparece sem identidade e vista com um olhar masculino.

Em Portugal, o reconhecimento e a consciência da especificidade da escrita feminina tem sido lenta. Porém após 25 de abril de 1974, a literatura portuguesa tornou-se mais rica graças ao surgimento de novos escritores, em especial as mulheres.

Sempre houve quanto a mulheres escritoras. E as correntes literárias veiculam a mulher como objeto do discurso masculino. Contudo, através da criação feminina a mulher é vista por ela própria e capaz de abordar questões do corpo, do desejo e tornar-se cada vez mais autentica.

No século XVII, D. Francisco Manuel de Melo, um dos escritores mais cultos de seu tempo, em sua obra intitulada “Carta de guia de casados” ao aconselhar um amigo que vai casar apresenta uma série de preconceitos contra a mulher. Nessa obra fica evidente o medo que a identidade feminina provoca nos homens desta época.

Segundo Melo, a mulher ideal deve ter pouca instrução pois se a mulher conquista acesso a cultura, a estabilidade familiar pode ser prejudicada.

Por tal razão, aconselha aos homens prudência em relação às mulheres instruídas.

No século XVIII, as perspectivas mudam. A questão da desigualdade entre homem e mulher ocupa uma parte das obras de Fénelon, Montesquieu, Voltaire ou Diderot e ecuam em Portugal. Nesta época, Luís António Verney constata que a educação das mulheres portuguesas é medíocre, o que, na sua opinião é horrível, pois são as mulheres as encarregadas da educação das crianças, os futuros homens. E graças a essa abertura muitas mulheres começaram a estudar e a exprimir-se.

Ainda no século XVIII, começa a surgir uma nova imagem da mulher que aparece agora como sujeito da sua própria história, consciente de seu papel na sociedade , e aberta `a luta por sua emancipação e dignidade.

Porém, a escrita feminina continua a ser um lugar de conflito entre o desejo de escrever e uma sociedade que manifesta uma reação contra esse desejo. Esta reação é feita através da ironia e da hostilidade.

No século XIX, temos alguns exemplos de tal atitude. O mais conhecido é o caso de Maria da felicidade Couto Brown, casada com um comerciante rico do Porto. Em 1861, após sua morte, um de seus filhos tentou destruir os exemplares que restavam de um texto poético publicado em 1854. E fez isto para salvar a honra da família. Maria Brown escrevia às escondidas, pois nesta época a mulher escritora era ridicularizada e provocava uma grande indignação – ao “perder” seu tempo escrevendo poderia sobrar pouco tempo para os trabalhos tidos como femininos.

No Romantismo os modelos literários revelam dois tipos femininos: o anjo e o demônio. A inocente e frágil e fatal.

No fim do século XIX, Ana de Castro Osório funda a liga Republicana das mulheres portuguesas que em, 1909 permitiu o combate pela emancipação das mulheres – surgiu leis importantes relativas ao casamento, à educação das crianças e ao divorcio -. E a mulher adquiriu uma lugar na vida literária e cultural.

Florbela Espanca é uma das vozes femininas mais marcantes do inicio do século XX. Sua vida é fielmente retratada em seus sonetos. Florbela é a primeira mulher a introduzir na literatura portuguesa, uma poesia de vibrações eróticas, que afirma o desejo.

No século XX, a literatura portuguesa desenvolve várias imagens femininas: temos a mulher emancipada, a submissa, a mãe e a prostituta.

Quando a mulher começa a escrever, o conceito de literatura sofre algumas mutações. Pois os estereótipos românticos reduzem o corpo da mulher, pela referencia de olhos, cabelos e através da escrita feminina o corpo da mulher tornou-se vivo e com identidade própria.

No anos 70, o movimento das mulheres que ocorreu nos Estados Unidos, França e na Itália, atinge uma minoria das portuguesa. Em abril de 72, três mulheres escritoras ( Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta) publicam os “Novas cartas portuguesa” e são perseguidas pela justiça, acusadas de atitudes contra a moral.

Este livro mobiliza a opinião, interroga e questiona o papel da mulher. Neste texto, as três Marias denunciam a condição feminina subalterna e afirmam a circulação do desejo e ousam propor, em uma época marcada pela hipocrisia, idéias subversivas relativas à sexualidade ou ao aborto.

A censura sobre o livro despertou o interesse do publico e a Revolução dos Cravos impediu os perseguidores de punir as escritoras, que são consideradas como as únicas representantes do feminismo em Portugal.

Na década de 70 as feministas começam a se preocupar com o gênero como categoria de análise literária. E isto ocorre a partir de duas posições distintas: sexo, que se refere a uma das duas categorias biológicas do corpo humano tanto masculino quanto feminino. Gênero, que se associa às categorias de expectativas, papéis, comportamentos e valores sociais em que o corpo se posiciona.

Enquanto sexo é um assunto físico, gênero é social, na qual homens e mulheres são educados e valorizados de maneiras diferentes e desiguais. Conceitos de feminilidades e masculinidades são produtos de processos culturais e sociais. As características masculinas e femininas não são manifestações de uma essência natural, universal ou eterna de homens e mulheres, mas ao contrario, funcionam como identidade e papéis de gêneros aceitos em nossa cultura, mas nada mais é fixo é imutável e esses papéis são – e devem- ser repensados redefiniodos.

Após 25 de abril de 74, a escrita feminina é abundante e esses escritores renovam a literatura portuguesa contemporânea.

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