quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Para Refletir!
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles
domingo, 5 de setembro de 2010
sábado, 5 de junho de 2010
Um pouco de Fernando Pessoa
Poema em linha reta
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)
[538]
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Uma visão breve sobre a vida e a obra do maior poeta da língua portuguesa:
- 1888: Nasce Fernando Antônio Nogueira Pessoa, em Lisboa.
- 1893: Perde o pai.
- 1895: A mãe casa-se com o comandante João Miguel Rosa. Partem para Durban, África do Sul.
- 1904: Recebe o Prêmio Queen Memorial Victoria, pelo ensaio apresentado no exame de admissão à Universidade do Cabo da Boa Esperança.
- 1905: Regressa sozinho a Lisboa.
- 1912: Estréia na Revista Águia.
- 1915: Funda, com alguns amigos, a revista Orpheu.
- 1918/1921: Publicação dos English Poems.
- 1925: Morre a mãe do poeta.
- 1934: Publica Mensagem.
- 1935: Morre de complicações hepáticas em Lisboa.
Os versos acima, escritos com o heterônimo de Álvaro de Campos, foram extraídos do livro "Fernando Pessoa - Obra Poética", Cia. José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 418.
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)
[538]
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Uma visão breve sobre a vida e a obra do maior poeta da língua portuguesa:
- 1888: Nasce Fernando Antônio Nogueira Pessoa, em Lisboa.
- 1893: Perde o pai.
- 1895: A mãe casa-se com o comandante João Miguel Rosa. Partem para Durban, África do Sul.
- 1904: Recebe o Prêmio Queen Memorial Victoria, pelo ensaio apresentado no exame de admissão à Universidade do Cabo da Boa Esperança.
- 1905: Regressa sozinho a Lisboa.
- 1912: Estréia na Revista Águia.
- 1915: Funda, com alguns amigos, a revista Orpheu.
- 1918/1921: Publicação dos English Poems.
- 1925: Morre a mãe do poeta.
- 1934: Publica Mensagem.
- 1935: Morre de complicações hepáticas em Lisboa.
Os versos acima, escritos com o heterônimo de Álvaro de Campos, foram extraídos do livro "Fernando Pessoa - Obra Poética", Cia. José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 418.
sábado, 6 de março de 2010
A mulher na literatura
Durante séculos as mulheres foram culturalmente reduzidas ao silêncio, ocupando o lugar de espectadoras na sociedade e na literatura. Ainda hoje muitas mulheres aceitam a passividade, a condição de servas do homem e se conformam pensando “sempre foi assim”.
Porém, a cultura de nossos dias parece cada vez mais atenta ao discurso das mulheres e sobre as mulheres. Após séculos aparecendo na história da literária no papel de objeto, finalmente a mulher surge como sujeito capaz de propor muitos valores, de praticar e de sensibilidades diferentes.
A mulher sempre esteve presente ma literatura, mas mesmo quando era musa inspiradora dos poetas, a mulher aparece sem identidade e vista com um olhar masculino.
Em Portugal, o reconhecimento e a consciência da especificidade da escrita feminina tem sido lenta. Porém após 25 de abril de 1974, a literatura portuguesa tornou-se mais rica graças ao surgimento de novos escritores, em especial as mulheres.
Sempre houve quanto a mulheres escritoras. E as correntes literárias veiculam a mulher como objeto do discurso masculino. Contudo, através da criação feminina a mulher é vista por ela própria e capaz de abordar questões do corpo, do desejo e tornar-se cada vez mais autentica.
No século XVII, D. Francisco Manuel de Melo, um dos escritores mais cultos de seu tempo, em sua obra intitulada “Carta de guia de casados” ao aconselhar um amigo que vai casar apresenta uma série de preconceitos contra a mulher. Nessa obra fica evidente o medo que a identidade feminina provoca nos homens desta época.
Segundo Melo, a mulher ideal deve ter pouca instrução pois se a mulher conquista acesso a cultura, a estabilidade familiar pode ser prejudicada.
Por tal razão, aconselha aos homens prudência em relação às mulheres instruídas.
No século XVIII, as perspectivas mudam. A questão da desigualdade entre homem e mulher ocupa uma parte das obras de Fénelon, Montesquieu, Voltaire ou Diderot e ecuam em Portugal. Nesta época, Luís António Verney constata que a educação das mulheres portuguesas é medíocre, o que, na sua opinião é horrível, pois são as mulheres as encarregadas da educação das crianças, os futuros homens. E graças a essa abertura muitas mulheres começaram a estudar e a exprimir-se.
Ainda no século XVIII, começa a surgir uma nova imagem da mulher que aparece agora como sujeito da sua própria história, consciente de seu papel na sociedade , e aberta `a luta por sua emancipação e dignidade.
Porém, a escrita feminina continua a ser um lugar de conflito entre o desejo de escrever e uma sociedade que manifesta uma reação contra esse desejo. Esta reação é feita através da ironia e da hostilidade.
No século XIX, temos alguns exemplos de tal atitude. O mais conhecido é o caso de Maria da felicidade Couto Brown, casada com um comerciante rico do Porto. Em 1861, após sua morte, um de seus filhos tentou destruir os exemplares que restavam de um texto poético publicado em 1854. E fez isto para salvar a honra da família. Maria Brown escrevia às escondidas, pois nesta época a mulher escritora era ridicularizada e provocava uma grande indignação – ao “perder” seu tempo escrevendo poderia sobrar pouco tempo para os trabalhos tidos como femininos.
No Romantismo os modelos literários revelam dois tipos femininos: o anjo e o demônio. A inocente e frágil e fatal.
No fim do século XIX, Ana de Castro Osório funda a liga Republicana das mulheres portuguesas que em, 1909 permitiu o combate pela emancipação das mulheres – surgiu leis importantes relativas ao casamento, à educação das crianças e ao divorcio -. E a mulher adquiriu uma lugar na vida literária e cultural.
Florbela Espanca é uma das vozes femininas mais marcantes do inicio do século XX. Sua vida é fielmente retratada em seus sonetos. Florbela é a primeira mulher a introduzir na literatura portuguesa, uma poesia de vibrações eróticas, que afirma o desejo.
No século XX, a literatura portuguesa desenvolve várias imagens femininas: temos a mulher emancipada, a submissa, a mãe e a prostituta.
Quando a mulher começa a escrever, o conceito de literatura sofre algumas mutações. Pois os estereótipos românticos reduzem o corpo da mulher, pela referencia de olhos, cabelos e através da escrita feminina o corpo da mulher tornou-se vivo e com identidade própria.
No anos 70, o movimento das mulheres que ocorreu nos Estados Unidos, França e na Itália, atinge uma minoria das portuguesa. Em abril de 72, três mulheres escritoras ( Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta) publicam os “Novas cartas portuguesa” e são perseguidas pela justiça, acusadas de atitudes contra a moral.
Este livro mobiliza a opinião, interroga e questiona o papel da mulher. Neste texto, as três Marias denunciam a condição feminina subalterna e afirmam a circulação do desejo e ousam propor, em uma época marcada pela hipocrisia, idéias subversivas relativas à sexualidade ou ao aborto.
A censura sobre o livro despertou o interesse do publico e a Revolução dos Cravos impediu os perseguidores de punir as escritoras, que são consideradas como as únicas representantes do feminismo em Portugal.
Na década de 70 as feministas começam a se preocupar com o gênero como categoria de análise literária. E isto ocorre a partir de duas posições distintas: sexo, que se refere a uma das duas categorias biológicas do corpo humano tanto masculino quanto feminino. Gênero, que se associa às categorias de expectativas, papéis, comportamentos e valores sociais em que o corpo se posiciona.
Enquanto sexo é um assunto físico, gênero é social, na qual homens e mulheres são educados e valorizados de maneiras diferentes e desiguais. Conceitos de feminilidades e masculinidades são produtos de processos culturais e sociais. As características masculinas e femininas não são manifestações de uma essência natural, universal ou eterna de homens e mulheres, mas ao contrario, funcionam como identidade e papéis de gêneros aceitos em nossa cultura, mas nada mais é fixo é imutável e esses papéis são – e devem- ser repensados redefiniodos.
Após 25 de abril de 74, a escrita feminina é abundante e esses escritores renovam a literatura portuguesa contemporânea.
Porém, a cultura de nossos dias parece cada vez mais atenta ao discurso das mulheres e sobre as mulheres. Após séculos aparecendo na história da literária no papel de objeto, finalmente a mulher surge como sujeito capaz de propor muitos valores, de praticar e de sensibilidades diferentes.
A mulher sempre esteve presente ma literatura, mas mesmo quando era musa inspiradora dos poetas, a mulher aparece sem identidade e vista com um olhar masculino.
Em Portugal, o reconhecimento e a consciência da especificidade da escrita feminina tem sido lenta. Porém após 25 de abril de 1974, a literatura portuguesa tornou-se mais rica graças ao surgimento de novos escritores, em especial as mulheres.
Sempre houve quanto a mulheres escritoras. E as correntes literárias veiculam a mulher como objeto do discurso masculino. Contudo, através da criação feminina a mulher é vista por ela própria e capaz de abordar questões do corpo, do desejo e tornar-se cada vez mais autentica.
No século XVII, D. Francisco Manuel de Melo, um dos escritores mais cultos de seu tempo, em sua obra intitulada “Carta de guia de casados” ao aconselhar um amigo que vai casar apresenta uma série de preconceitos contra a mulher. Nessa obra fica evidente o medo que a identidade feminina provoca nos homens desta época.
Segundo Melo, a mulher ideal deve ter pouca instrução pois se a mulher conquista acesso a cultura, a estabilidade familiar pode ser prejudicada.
Por tal razão, aconselha aos homens prudência em relação às mulheres instruídas.
No século XVIII, as perspectivas mudam. A questão da desigualdade entre homem e mulher ocupa uma parte das obras de Fénelon, Montesquieu, Voltaire ou Diderot e ecuam em Portugal. Nesta época, Luís António Verney constata que a educação das mulheres portuguesas é medíocre, o que, na sua opinião é horrível, pois são as mulheres as encarregadas da educação das crianças, os futuros homens. E graças a essa abertura muitas mulheres começaram a estudar e a exprimir-se.
Ainda no século XVIII, começa a surgir uma nova imagem da mulher que aparece agora como sujeito da sua própria história, consciente de seu papel na sociedade , e aberta `a luta por sua emancipação e dignidade.
Porém, a escrita feminina continua a ser um lugar de conflito entre o desejo de escrever e uma sociedade que manifesta uma reação contra esse desejo. Esta reação é feita através da ironia e da hostilidade.
No século XIX, temos alguns exemplos de tal atitude. O mais conhecido é o caso de Maria da felicidade Couto Brown, casada com um comerciante rico do Porto. Em 1861, após sua morte, um de seus filhos tentou destruir os exemplares que restavam de um texto poético publicado em 1854. E fez isto para salvar a honra da família. Maria Brown escrevia às escondidas, pois nesta época a mulher escritora era ridicularizada e provocava uma grande indignação – ao “perder” seu tempo escrevendo poderia sobrar pouco tempo para os trabalhos tidos como femininos.
No Romantismo os modelos literários revelam dois tipos femininos: o anjo e o demônio. A inocente e frágil e fatal.
No fim do século XIX, Ana de Castro Osório funda a liga Republicana das mulheres portuguesas que em, 1909 permitiu o combate pela emancipação das mulheres – surgiu leis importantes relativas ao casamento, à educação das crianças e ao divorcio -. E a mulher adquiriu uma lugar na vida literária e cultural.
Florbela Espanca é uma das vozes femininas mais marcantes do inicio do século XX. Sua vida é fielmente retratada em seus sonetos. Florbela é a primeira mulher a introduzir na literatura portuguesa, uma poesia de vibrações eróticas, que afirma o desejo.
No século XX, a literatura portuguesa desenvolve várias imagens femininas: temos a mulher emancipada, a submissa, a mãe e a prostituta.
Quando a mulher começa a escrever, o conceito de literatura sofre algumas mutações. Pois os estereótipos românticos reduzem o corpo da mulher, pela referencia de olhos, cabelos e através da escrita feminina o corpo da mulher tornou-se vivo e com identidade própria.
No anos 70, o movimento das mulheres que ocorreu nos Estados Unidos, França e na Itália, atinge uma minoria das portuguesa. Em abril de 72, três mulheres escritoras ( Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta) publicam os “Novas cartas portuguesa” e são perseguidas pela justiça, acusadas de atitudes contra a moral.
Este livro mobiliza a opinião, interroga e questiona o papel da mulher. Neste texto, as três Marias denunciam a condição feminina subalterna e afirmam a circulação do desejo e ousam propor, em uma época marcada pela hipocrisia, idéias subversivas relativas à sexualidade ou ao aborto.
A censura sobre o livro despertou o interesse do publico e a Revolução dos Cravos impediu os perseguidores de punir as escritoras, que são consideradas como as únicas representantes do feminismo em Portugal.
Na década de 70 as feministas começam a se preocupar com o gênero como categoria de análise literária. E isto ocorre a partir de duas posições distintas: sexo, que se refere a uma das duas categorias biológicas do corpo humano tanto masculino quanto feminino. Gênero, que se associa às categorias de expectativas, papéis, comportamentos e valores sociais em que o corpo se posiciona.
Enquanto sexo é um assunto físico, gênero é social, na qual homens e mulheres são educados e valorizados de maneiras diferentes e desiguais. Conceitos de feminilidades e masculinidades são produtos de processos culturais e sociais. As características masculinas e femininas não são manifestações de uma essência natural, universal ou eterna de homens e mulheres, mas ao contrario, funcionam como identidade e papéis de gêneros aceitos em nossa cultura, mas nada mais é fixo é imutável e esses papéis são – e devem- ser repensados redefiniodos.
Após 25 de abril de 74, a escrita feminina é abundante e esses escritores renovam a literatura portuguesa contemporânea.
Um pouco de poesia
Dois e Dois são Quatro
Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
como é azul o oceano
E a lagoa, serena
Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena
- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.
Ferreira Gullar
Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
como é azul o oceano
E a lagoa, serena
Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena
- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.
Ferreira Gullar
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Pablo Neruda
PABLO NERUDA
BIOGRAFIA
Neftalí Ricardo Reyes, dito Pablo Neruda. Poeta chileno (Parral 1904 - Santiago 1973).
Cônsul do Chile na Espanha e no México, eleito senador em 1945, foi embaixador na França (1970). Suas poesias da primeira fase são inspiradas por uma angústia altamente romântica. Passou por uma fase surrealista. Tornou-se marxista e revolucionário, sendo, primeiramente, a voz angustiada da República Espanhola e, depois, das revoluções latino-americanas.
Esteve no Brasil em diversas oportunidades, e, numa delas, declamou poemas seus perante grande massa popular concentrada no estádio do Pacaembu, em São Paulo.
Obras principais: A canção da festa (1921), Crepusculário (1923), Vinte poemas de amor e uma canção desesperada (1924), Tentativa do homem infinito (1925), Residência na terra [vol. I, 1931; vol.II, 1935; vol.III,1939, que inclui Espanha no coração (1936-1937)], Ode a Stalingrado (1942), Terceira residência (1947), Canto geral (1950), Odes elementares (1954), Navegações e retornos (1959), Canção de gesta (1960), ensaios (Memorial da ilha negra, 1964) e a peça teatral Esplendor e morte de Joaquín Murieta (1967).
Em 1974, foi publlicado o volume autobiografico Confesso que vivi. (Prêmio Nobel de Literatura, 1971).
BIOGRAFIA
Neftalí Ricardo Reyes, dito Pablo Neruda. Poeta chileno (Parral 1904 - Santiago 1973).
Cônsul do Chile na Espanha e no México, eleito senador em 1945, foi embaixador na França (1970). Suas poesias da primeira fase são inspiradas por uma angústia altamente romântica. Passou por uma fase surrealista. Tornou-se marxista e revolucionário, sendo, primeiramente, a voz angustiada da República Espanhola e, depois, das revoluções latino-americanas.
Esteve no Brasil em diversas oportunidades, e, numa delas, declamou poemas seus perante grande massa popular concentrada no estádio do Pacaembu, em São Paulo.
Obras principais: A canção da festa (1921), Crepusculário (1923), Vinte poemas de amor e uma canção desesperada (1924), Tentativa do homem infinito (1925), Residência na terra [vol. I, 1931; vol.II, 1935; vol.III,1939, que inclui Espanha no coração (1936-1937)], Ode a Stalingrado (1942), Terceira residência (1947), Canto geral (1950), Odes elementares (1954), Navegações e retornos (1959), Canção de gesta (1960), ensaios (Memorial da ilha negra, 1964) e a peça teatral Esplendor e morte de Joaquín Murieta (1967).
Em 1974, foi publlicado o volume autobiografico Confesso que vivi. (Prêmio Nobel de Literatura, 1971).
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
O rádio
Uso do rádio
O rádio já viveu grandes momentos de glória, pois foi com ele que iniciou a democratização da informação. Durante décadas ele permaneceu na casa das pessoas como alguém da família. E em muitos lares ele era o companheiro das horas de alegrias, de tristezas, de saudades e de lazer. O rádio fez mocinhas sonharem ouvindo as românticas músicas ou novelas e a voz sexy dos apresentadores. Ele fez donas de casa e senhores sonharem e ainda hoje em muitas cidades do interior de nosso país ocupa um papel de destaque.
Em toda família há muitas histórias que envolvem o rádio, na minha, por exemplo, meu avô conta que quando viu um rádio pela primeira vez achou que era “uma coisa de outro mundo”. Como podia as vozes sair de dentro de uma caixa de madeira? Como? Não havia quem explicasse isso para ele e na primeira oportunidade que ele teve ele abriu o rádio do patrão para tentar descobrir. Não demorou muito tempo e ele ganhou um aparelho de uma das filhas, que nessa época já trabalhava em Florianópolis. E foi ela quem lhe explicou um pouco sobre o funcionamento do rádio. E de La para cá meu avô nunca mais se separou de um rádio, hoje ele tem noventa e quatro anos e todos os dias a primeira coisa que faz ao acordar é ligar o seu rádio. Uma prática que ele repete há mais de cinqüenta anos.
Mas o tempo mudou e muitas coisas apareceram e ocuparam o lugar do rádio, primeiro veio a televisão, depois uma imensidão de aparelhos musicais e o computador. E o velho rádio está sumindo de nossos lares, principalmente da área urbana. Porém nas áreas rurais a presença do rádio ainda é muito importante e ainda serve para ligar o “sertão ao mundo”. E em muitas dessas residências é a única mídia disponível, pois não é difícil de adquirir e funciona a pilha e muitos desses lugares ainda não possuem acesso a energia elétrica.
Em minha adolescência ouvi muito rádio e até ligava para determinados programas para solicitar e oferecer músicas e muitas de minhas amigas faziam o mesmo. Cheguei a ganhar alguns prêmios de concursos de rádios (melhor redação sobre a páscoa, melhor poesia sobre o dia das mães e dos pais, frases sobre a copa do mundo, etc.). Porém hoje praticamente não ouço mais, ou melhor, só o faço quando vou à casa de minha mãe.
Há alguns anos trabalhei em uma escola que tinha uma rádio cuja programação e apresentação eram feita pelos alunos. Era super interessante, cada semana uma turma era responsável pela rádio e havia todo um trabalho de produção textual, escolha de repertório musical, ensaios, enfim os alunos amavam e os professores também gostavam muito, pois era um instrumento real de aprendizagem. No qual os alunos produziam informações e os professores enriqueciam suas aulas com a participação de todos!
Após ler os textos indicados nesse módulo e os comentários dos colegas e relembrar a experiência que tive na escola citada no parágrafo anterior percebi que podemos fazer do rádio um aliado no processo de aprendizagem. Pois há muitas formas de trabalhar com essa mídia e em todas as disciplinas do currículo escolar. Ressalto que concordo plenamente com Cynthia Camargo que na entrevista Rádio pela Educação destaca a importância do rádio, pois ele tem um “contato intimo entre o locutor e o ouvinte e cria a oportunidade para uma identificação mútua com a população, integrando-se à rotina cotidiana do ambiente familiar da comunidade, com grande potencial de mobilização, divulgação e educação.” E alternativas de trabalhos não faltam: Pode-se orientar pesquisas para depois serem apresentadas em um programa, no qual o aluno terá que treinar a leitura, a produção textual (escrever, corrigir, resumir e adequar a linguagem ao público), trabalhar a variação lingüística, a linguagem formal e informal, enfim as possibilidades são muitas basta termos criatividade e disposição para elaborar e colocar em pratica um projeto tendo o rádio como “estrela principal”. Obvio que não é uma tarefa simples, pois será preciso movimentar e convencer muitas pessoas (direção, coordenação, pais) de que o projeto é sério e que colaborará muito com a aprendizagem dos estudantes. Contudo estou convencida de que vale a pena investir esforços para implantar uma rádio na escola!
O rádio já viveu grandes momentos de glória, pois foi com ele que iniciou a democratização da informação. Durante décadas ele permaneceu na casa das pessoas como alguém da família. E em muitos lares ele era o companheiro das horas de alegrias, de tristezas, de saudades e de lazer. O rádio fez mocinhas sonharem ouvindo as românticas músicas ou novelas e a voz sexy dos apresentadores. Ele fez donas de casa e senhores sonharem e ainda hoje em muitas cidades do interior de nosso país ocupa um papel de destaque.
Em toda família há muitas histórias que envolvem o rádio, na minha, por exemplo, meu avô conta que quando viu um rádio pela primeira vez achou que era “uma coisa de outro mundo”. Como podia as vozes sair de dentro de uma caixa de madeira? Como? Não havia quem explicasse isso para ele e na primeira oportunidade que ele teve ele abriu o rádio do patrão para tentar descobrir. Não demorou muito tempo e ele ganhou um aparelho de uma das filhas, que nessa época já trabalhava em Florianópolis. E foi ela quem lhe explicou um pouco sobre o funcionamento do rádio. E de La para cá meu avô nunca mais se separou de um rádio, hoje ele tem noventa e quatro anos e todos os dias a primeira coisa que faz ao acordar é ligar o seu rádio. Uma prática que ele repete há mais de cinqüenta anos.
Mas o tempo mudou e muitas coisas apareceram e ocuparam o lugar do rádio, primeiro veio a televisão, depois uma imensidão de aparelhos musicais e o computador. E o velho rádio está sumindo de nossos lares, principalmente da área urbana. Porém nas áreas rurais a presença do rádio ainda é muito importante e ainda serve para ligar o “sertão ao mundo”. E em muitas dessas residências é a única mídia disponível, pois não é difícil de adquirir e funciona a pilha e muitos desses lugares ainda não possuem acesso a energia elétrica.
Em minha adolescência ouvi muito rádio e até ligava para determinados programas para solicitar e oferecer músicas e muitas de minhas amigas faziam o mesmo. Cheguei a ganhar alguns prêmios de concursos de rádios (melhor redação sobre a páscoa, melhor poesia sobre o dia das mães e dos pais, frases sobre a copa do mundo, etc.). Porém hoje praticamente não ouço mais, ou melhor, só o faço quando vou à casa de minha mãe.
Há alguns anos trabalhei em uma escola que tinha uma rádio cuja programação e apresentação eram feita pelos alunos. Era super interessante, cada semana uma turma era responsável pela rádio e havia todo um trabalho de produção textual, escolha de repertório musical, ensaios, enfim os alunos amavam e os professores também gostavam muito, pois era um instrumento real de aprendizagem. No qual os alunos produziam informações e os professores enriqueciam suas aulas com a participação de todos!
Após ler os textos indicados nesse módulo e os comentários dos colegas e relembrar a experiência que tive na escola citada no parágrafo anterior percebi que podemos fazer do rádio um aliado no processo de aprendizagem. Pois há muitas formas de trabalhar com essa mídia e em todas as disciplinas do currículo escolar. Ressalto que concordo plenamente com Cynthia Camargo que na entrevista Rádio pela Educação destaca a importância do rádio, pois ele tem um “contato intimo entre o locutor e o ouvinte e cria a oportunidade para uma identificação mútua com a população, integrando-se à rotina cotidiana do ambiente familiar da comunidade, com grande potencial de mobilização, divulgação e educação.” E alternativas de trabalhos não faltam: Pode-se orientar pesquisas para depois serem apresentadas em um programa, no qual o aluno terá que treinar a leitura, a produção textual (escrever, corrigir, resumir e adequar a linguagem ao público), trabalhar a variação lingüística, a linguagem formal e informal, enfim as possibilidades são muitas basta termos criatividade e disposição para elaborar e colocar em pratica um projeto tendo o rádio como “estrela principal”. Obvio que não é uma tarefa simples, pois será preciso movimentar e convencer muitas pessoas (direção, coordenação, pais) de que o projeto é sério e que colaborará muito com a aprendizagem dos estudantes. Contudo estou convencida de que vale a pena investir esforços para implantar uma rádio na escola!
Proverbios y cantares / Provérbios e cantares
ANTONIO MACHADO
Proverbios y cantares / Provérbios e cantares
I
Nunca perseguí la gloria
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles
como pompas de jabón.
Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse.
I
Nunca persegui a glória
nem conservar na memória
dos homens minha canção;
eu amo os mundos sutis,
ingrávidos e gentis
como bolhas de sabão.
Gosto de vê-los pintar-se
de ouro e de carmim, voar
no céu azul, tremular
subitamente e quebrar-se.
II
¿Para qué llamar caminos
a los surcos del azar?...
Todo el que camina anda,
como Jesús, sobre el mar.
II
Para que chamar caminho
a estes sulcos do azar?...
Tudo o que caminha anda,
como Jesus, sobre o mar.
III
A quien nos justifica nuestra desconfianza
llamamos enemigo, ladrón de una esperanza.
Jamás perdona el necio si ve la nuez vacía
que dio a cascar al diente de la sabiduría.
III
A quem nos justifica nossa desconfiança
chamamos inimigo, ladrão de uma esperança.
Jamais perdoa o néscio se vê a noz vazia
que deu a cascar ao dente da sabedoria.
IV
Nuestras horas son minutos
cuando esperamos saber,
y siglos cuando sabemos
lo que se puede aprender.
IV
Nossas horas são minutos
quando esperamos saber,
séculos quando sabemos
o que se pode aprender.
VI
De lo que llaman los hombres
virtud, justicia y bondad,
una mitad es envidia,
y la otra no es caridad.
VI
Daquilo que chamam os homens
virtude, justiça e bondade,
uma metade é só de inveja,
e a outra não é caridade.
VIII
En preguntar lo que sabes
el tiempo no has de perder...
Y a preguntas sin respuesta
¿quién te podrá responder?
VIII
Em perguntar o que sabes
tempo não hás de perder...
E a perguntas sem resposta
quem pode te responder?
X
La envidia de la virtud
hizo a Caín criminal.
¡Gloria a Caín! Hoy el vicio
es lo que se envidia más.
X
A inveja da virtude
fez de Caim Criminoso.
Glória a Caim! Hoje o vício
é aquilo que mais se inveja.
XII
¡Ojos que a la luz se abrieron
un día para, después,
ciegos tornar a la tierra,
hartos de mirar sin ver!
XII
Olhos que à luz se abriram
um dia para, então,
cegos tornar à terra,
fartos de olhar sem ver!
XIII
Es el mejor de los buenos
quien sabe que en esta vida
todo es cuestión de medida:
un poco más, algo menos...
XIII
É o melhor entre os bons
quem sabe que nesta vida
tudo é questão de medida:
um pouco mais, algo menos...
XIV
Virtud es la alegría que alivia el corazón
más grave y desarruga el ceño de Catón.
El bueno es el que guarda, cual venta del camino,
para el sediento el agua, para el borracho el vino.
XIV
Virtude, alegria que abranda o coração
mais grave e desenruga o cenho de Catão.
O bom é o que guarda, qual venda do caminho,
para o sedento a água, para o ébrio o vinho.
XVI
El hombre es por natura la bestia paradójica,
un animal absurdo que necesita lógica.
Creó de nada un mundo y, su obra terminada,
"Ya estoy en el secreto -se dijo-, todo es nada."
XVI
O homem, por índole, é besta paradoxal,
precisa de lógica esse absurdo animal.
Criou do nada um mundo e, obra terminada,
“Já sei o segredo – se disse – , tudo é nada.”
XVII
El hombre sólo es rico en hipocresía.
En sus diez mil disfraces para engañar confía;
y con la doble llave que guarda su mansión
para la ajena hace ganzúa de ladrón.
XVII
O homem somente é rico em hipocrisia.
Em dez mil disfarces para enganar confia;
e com a chave dupla da sua mansão
para a alheia faz gazua de ladrão.
XXI
Ayer soñé que veía
a Dios y que a Dios hablaba;
y soñé que Dios me oía...
Después soñé que soñaba.
XXI
Ontem eu sonhei que via
Deus e que com Deus falava;
e sonhei que Deus me ouvia...
Depois sonhei que sonhava.
XXIII
No extrañéis, dulces amigos,
que esté mi frente arrugada:
yo vivo en paz con los hombres
y en guerra con mis entrañas.
XXIII
Não estranhem, doces amigos,
esta minha testa enrugada:
eu vivo na paz com os homens
e em guerra com minhas entranhas.
XXXV
Hay dos modos de conciencia:
una es luz, y otra, paciencia.
Una estriba en alumbrar
un poquito el hondo mar;
otra, en hacer penitencia
con caña o red, y esperar
el pez, como pescador.
Dime tú: ¿Cuál es mejor?
¿Conciencia de visionario
que mira en el hondo acuario
peces vivos,
fugitivos,
que no se pueden pescar,
o esa maldita faena
de ir arrojando a la arena,
muertos, los peces del mar?
XXXV
Há dois modos de consciência:
uma é luz, e outra, paciência.
Uma estriba em alumbrar
um pouquinho o fundo mar;
outra, em fazer penitência
de anzol ou rede, e esperar
o peixe, qual pescador.
Diga-me? Qual é melhor?
Consciência de visionário
que olha no fundo do aquário
peixes vivos,
fugitivos,
que não se podem pescar,
ou esse ofício nefando
de ir na areia atirando,
mortos, os peixes do mar?
XXXVI
Fe empirista. Ni somos ni seremos.
Todo nuestro vivir es emprestado.
Nada trajimos; nada llevaremos.
XXXVI
Fé empirista. Nem somos nem seremos.
Todo nosso viver é emprestado.
Nada trazemos, nada levaremos.
XLIII
Dices que nada se pierde
y acaso dices verdad,
pero todo lo perdemos
y todo nos perderá.
XLIII
Dizes que nada se perde,
e talvez dizes verdade,
tudo perdemos porém
e tudo nos perderá.
XLIV
Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre la mar.
XLIV
Tudo passa e tudo fica,
e o que nos cabe é passar,
passar fazendo caminhos,
caminhos por sobre o mar.
XLV
Morir... ¿Caer como gota
de mar en el mar inmenso?
¿O ser lo que nunca he sido:
uno, sin sombra y sin sueño,
un solitario que avanza
sin camino y sin espejo?
XLV
Morrer... Cair como gota
do mar no mar gigantesco?
Ou ser o que nunca fui:
alguém, sem sombra e sem sonho,
um solitário que avança,
sem caminho e sem espelho?
XLVI
Anoche soñé que oía
a Dios, gritándome: ¡Alerta!
Luego era Dios quien dormía,
y yo gritaba: ¡Despierta!
XLVI
De noite sonhei que ouvia
Deus, a me gritar: Alerta!
Logo era Deus quem dormia,
e eu gritava: Desperta!
XLVII
Cuatro cosas tiene el hombre
que no sirven en la mar:
ancla, gobernalle y remos,
y miedo de naufragar.
XLVII
Quatro coisas tem o homem
que são inúteis no mar:
âncora, timão e remos,
e medo de naufragar.
XLVIII
Mirando mi calavera
un nuevo Hamlet dirá:
He aquí un lindo fósil de una
careta de carnaval.
XLVIII
Olhando minha caveira
um novo Hamlet dirá:
Eis um lindo fóssil de uma
máscara de carnaval.
LI
Luz del alma, luz divina,
faro, antorcha, estrella, sol...
Un hombre a tientas camina;
lleva a la espalda un farol.
LI
Luz do espírito, luz sagrada,
lanterna, tocha, estrela, sol...
Um homem às cegas na estrada;
leva nas costas um farol.
Proverbios y cantares / Provérbios e cantares
I
Nunca perseguí la gloria
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles
como pompas de jabón.
Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse.
I
Nunca persegui a glória
nem conservar na memória
dos homens minha canção;
eu amo os mundos sutis,
ingrávidos e gentis
como bolhas de sabão.
Gosto de vê-los pintar-se
de ouro e de carmim, voar
no céu azul, tremular
subitamente e quebrar-se.
II
¿Para qué llamar caminos
a los surcos del azar?...
Todo el que camina anda,
como Jesús, sobre el mar.
II
Para que chamar caminho
a estes sulcos do azar?...
Tudo o que caminha anda,
como Jesus, sobre o mar.
III
A quien nos justifica nuestra desconfianza
llamamos enemigo, ladrón de una esperanza.
Jamás perdona el necio si ve la nuez vacía
que dio a cascar al diente de la sabiduría.
III
A quem nos justifica nossa desconfiança
chamamos inimigo, ladrão de uma esperança.
Jamais perdoa o néscio se vê a noz vazia
que deu a cascar ao dente da sabedoria.
IV
Nuestras horas son minutos
cuando esperamos saber,
y siglos cuando sabemos
lo que se puede aprender.
IV
Nossas horas são minutos
quando esperamos saber,
séculos quando sabemos
o que se pode aprender.
VI
De lo que llaman los hombres
virtud, justicia y bondad,
una mitad es envidia,
y la otra no es caridad.
VI
Daquilo que chamam os homens
virtude, justiça e bondade,
uma metade é só de inveja,
e a outra não é caridade.
VIII
En preguntar lo que sabes
el tiempo no has de perder...
Y a preguntas sin respuesta
¿quién te podrá responder?
VIII
Em perguntar o que sabes
tempo não hás de perder...
E a perguntas sem resposta
quem pode te responder?
X
La envidia de la virtud
hizo a Caín criminal.
¡Gloria a Caín! Hoy el vicio
es lo que se envidia más.
X
A inveja da virtude
fez de Caim Criminoso.
Glória a Caim! Hoje o vício
é aquilo que mais se inveja.
XII
¡Ojos que a la luz se abrieron
un día para, después,
ciegos tornar a la tierra,
hartos de mirar sin ver!
XII
Olhos que à luz se abriram
um dia para, então,
cegos tornar à terra,
fartos de olhar sem ver!
XIII
Es el mejor de los buenos
quien sabe que en esta vida
todo es cuestión de medida:
un poco más, algo menos...
XIII
É o melhor entre os bons
quem sabe que nesta vida
tudo é questão de medida:
um pouco mais, algo menos...
XIV
Virtud es la alegría que alivia el corazón
más grave y desarruga el ceño de Catón.
El bueno es el que guarda, cual venta del camino,
para el sediento el agua, para el borracho el vino.
XIV
Virtude, alegria que abranda o coração
mais grave e desenruga o cenho de Catão.
O bom é o que guarda, qual venda do caminho,
para o sedento a água, para o ébrio o vinho.
XVI
El hombre es por natura la bestia paradójica,
un animal absurdo que necesita lógica.
Creó de nada un mundo y, su obra terminada,
"Ya estoy en el secreto -se dijo-, todo es nada."
XVI
O homem, por índole, é besta paradoxal,
precisa de lógica esse absurdo animal.
Criou do nada um mundo e, obra terminada,
“Já sei o segredo – se disse – , tudo é nada.”
XVII
El hombre sólo es rico en hipocresía.
En sus diez mil disfraces para engañar confía;
y con la doble llave que guarda su mansión
para la ajena hace ganzúa de ladrón.
XVII
O homem somente é rico em hipocrisia.
Em dez mil disfarces para enganar confia;
e com a chave dupla da sua mansão
para a alheia faz gazua de ladrão.
XXI
Ayer soñé que veía
a Dios y que a Dios hablaba;
y soñé que Dios me oía...
Después soñé que soñaba.
XXI
Ontem eu sonhei que via
Deus e que com Deus falava;
e sonhei que Deus me ouvia...
Depois sonhei que sonhava.
XXIII
No extrañéis, dulces amigos,
que esté mi frente arrugada:
yo vivo en paz con los hombres
y en guerra con mis entrañas.
XXIII
Não estranhem, doces amigos,
esta minha testa enrugada:
eu vivo na paz com os homens
e em guerra com minhas entranhas.
XXXV
Hay dos modos de conciencia:
una es luz, y otra, paciencia.
Una estriba en alumbrar
un poquito el hondo mar;
otra, en hacer penitencia
con caña o red, y esperar
el pez, como pescador.
Dime tú: ¿Cuál es mejor?
¿Conciencia de visionario
que mira en el hondo acuario
peces vivos,
fugitivos,
que no se pueden pescar,
o esa maldita faena
de ir arrojando a la arena,
muertos, los peces del mar?
XXXV
Há dois modos de consciência:
uma é luz, e outra, paciência.
Uma estriba em alumbrar
um pouquinho o fundo mar;
outra, em fazer penitência
de anzol ou rede, e esperar
o peixe, qual pescador.
Diga-me? Qual é melhor?
Consciência de visionário
que olha no fundo do aquário
peixes vivos,
fugitivos,
que não se podem pescar,
ou esse ofício nefando
de ir na areia atirando,
mortos, os peixes do mar?
XXXVI
Fe empirista. Ni somos ni seremos.
Todo nuestro vivir es emprestado.
Nada trajimos; nada llevaremos.
XXXVI
Fé empirista. Nem somos nem seremos.
Todo nosso viver é emprestado.
Nada trazemos, nada levaremos.
XLIII
Dices que nada se pierde
y acaso dices verdad,
pero todo lo perdemos
y todo nos perderá.
XLIII
Dizes que nada se perde,
e talvez dizes verdade,
tudo perdemos porém
e tudo nos perderá.
XLIV
Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre la mar.
XLIV
Tudo passa e tudo fica,
e o que nos cabe é passar,
passar fazendo caminhos,
caminhos por sobre o mar.
XLV
Morir... ¿Caer como gota
de mar en el mar inmenso?
¿O ser lo que nunca he sido:
uno, sin sombra y sin sueño,
un solitario que avanza
sin camino y sin espejo?
XLV
Morrer... Cair como gota
do mar no mar gigantesco?
Ou ser o que nunca fui:
alguém, sem sombra e sem sonho,
um solitário que avança,
sem caminho e sem espelho?
XLVI
Anoche soñé que oía
a Dios, gritándome: ¡Alerta!
Luego era Dios quien dormía,
y yo gritaba: ¡Despierta!
XLVI
De noite sonhei que ouvia
Deus, a me gritar: Alerta!
Logo era Deus quem dormia,
e eu gritava: Desperta!
XLVII
Cuatro cosas tiene el hombre
que no sirven en la mar:
ancla, gobernalle y remos,
y miedo de naufragar.
XLVII
Quatro coisas tem o homem
que são inúteis no mar:
âncora, timão e remos,
e medo de naufragar.
XLVIII
Mirando mi calavera
un nuevo Hamlet dirá:
He aquí un lindo fósil de una
careta de carnaval.
XLVIII
Olhando minha caveira
um novo Hamlet dirá:
Eis um lindo fóssil de uma
máscara de carnaval.
LI
Luz del alma, luz divina,
faro, antorcha, estrella, sol...
Un hombre a tientas camina;
lleva a la espalda un farol.
LI
Luz do espírito, luz sagrada,
lanterna, tocha, estrela, sol...
Um homem às cegas na estrada;
leva nas costas um farol.
Cultura nunca é demais!
Antonio Machado
(1875-1939)
Poeta y prosista español, perteneciente al movimiento literario conocido como generación del 98.
Probablemente sea el poeta de su época que más se lee todavía. Vida Nació en Sevilla y vivió luego
en Madrid, donde estudió. En 1893 publicó sus primeros escritos en prosa, mientras que sus primeros
poemas aparecieron en 1901. Viajó a París en 1899, ciudad que volvió a visitar en 1902, año en el que
conoció a Rubén Darío, del que será gran amigo durante toda su vida. En Madrid, por esas mismas
fechas conoció a Unamuno, Valle-Inclán, Juan Ramón Jiménez y otros destacados escritores con los
que mantuvo una estrecha amistad. Fue catedrático de Francés, y se casó con Leonor Izquierdo,
que morirá en 1912. En 1927 fue elegido miembro de la Real Academia Española de la lengua.
Durante los años veinte y treinta escribió teatro en compañía de su hermano, también poeta, Manuel,
estrenando varias obras entre las que destacan La Lola se va a los puertos, de 1929, y La duquesa
de Benamejí, de 1931. Cuando estalló la Guerra Civil española estaba en Madrid. Posteriormente
se trasladó a Valencia, y Barcelona, y en enero de 1939 se exilió al pueblo francés de Colliure,
donde murió en febrero.
(1875-1939)
Poeta y prosista español, perteneciente al movimiento literario conocido como generación del 98.
Probablemente sea el poeta de su época que más se lee todavía. Vida Nació en Sevilla y vivió luego
en Madrid, donde estudió. En 1893 publicó sus primeros escritos en prosa, mientras que sus primeros
poemas aparecieron en 1901. Viajó a París en 1899, ciudad que volvió a visitar en 1902, año en el que
conoció a Rubén Darío, del que será gran amigo durante toda su vida. En Madrid, por esas mismas
fechas conoció a Unamuno, Valle-Inclán, Juan Ramón Jiménez y otros destacados escritores con los
que mantuvo una estrecha amistad. Fue catedrático de Francés, y se casó con Leonor Izquierdo,
que morirá en 1912. En 1927 fue elegido miembro de la Real Academia Española de la lengua.
Durante los años veinte y treinta escribió teatro en compañía de su hermano, también poeta, Manuel,
estrenando varias obras entre las que destacan La Lola se va a los puertos, de 1929, y La duquesa
de Benamejí, de 1931. Cuando estalló la Guerra Civil española estaba en Madrid. Posteriormente
se trasladó a Valencia, y Barcelona, y en enero de 1939 se exilió al pueblo francés de Colliure,
donde murió en febrero.
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